No âmbito do Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Conferência Eclesiástica da Amazônia (CEAMA) participou da apresentação do documento “Violência contra os povos indígenas no Brasil. Resumo dos dados 2024”, realizada no dia 10 de dezembro na Arquidiocese de Porto Velho, Brasil.
O evento foi organizado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI – Regional Rondônia) e contou com a participação de mais de 40 pessoas, entre representantes de povos indígenas, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), do Ministério Público Federal, da vida religiosa, de organizações da sociedade civil e de líderes da Igreja Católica. A jornada foi moderada pela Irmã Laura Vicuña e transmitida ao vivo pela Rádio Caiari FM.
Entre os presentes estavam o Arcebispo de Porto Velho, Dom Roque Paloschi, e o Cardeal Pedro Barreto, presidente da CEAMA, acompanhado por assessores da Conferência, reafirmando o compromisso da Igreja amazônica com a defesa dos direitos humanos e da vida dos povos originários.
Um relatório que denuncia violências persistentes
A apresentação do relatório foi marcada pela exposição de dados e uma reflexão coletiva sobre a grave realidade enfrentada pelos povos indígenas no Brasil. Apesar dos avanços na visibilidade, o documento evidencia que as violações continuam ocorrendo de forma sistemática.
O relatório analisa 19 categorias de violência, organizadas em três grandes eixos:
- Violência contra o patrimônio indígena
- Violência contra a pessoa
- Violência derivada da omissão do Estado e das autoridades públicas
Além disso, inclui uma análise específica sobre as ameaças aos povos indígenas em isolamento voluntário e aprofunda temas como:
- O racismo estrutural contra os povos indígenas
- A política indígena a partir de uma perspectiva orçamentária
- Os direitos indígenas no sistema de justiça criminal
- A luta pela justiça, pela memória e pela verdade diante das violações históricas
A voz profética da Igreja amazônica
Durante sua intervenção, o cardeal Pedro Barreto destacou a importância de uma Igreja comprometida e articulada na Amazônia, ressaltando o impulso dado pelo Papa Francisco e continuado pelo Papa Leão XIV, especialmente por meio da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e da CEAMA.
O cardeal lembrou que a CEAMA é uma novidade histórica na Igreja, por ser a primeira Conferência Eclesial, onde bispos, religiosos, leigos e povos originários caminham juntos como Povo de Deus. Nesse sentido, ele reafirmou que a missão da CEAMA é ouvir os clamores da Amazônia e reivindicar os direitos humanos daqueles que habitam o território, particularmente diante da violência que continua afetando os povos indígenas.
Ao evocar as palavras do Papa Francisco em Puerto Maldonado (2018), destacou que os povos indígenas são “guardiões da Casa Comum” e que o território amazônico é um território sagrado que deve ser protegido.
Compromisso com a denúncia e a mobilização
O dia terminou com um apelo comum para manter viva a denúncia profética, fortalecer a mobilização social e exigir que os direitos dos povos indígenas sejam efetivamente garantidos, em fidelidade ao Evangelho e à justiça socioambiental.
Participaram da apresentação:
- Mons. Roque Paloschi, Arcebispo de Porto Velho
- Cardeal Pedro Barreto, Presidente da CEAMA
- Prof. Marilsa Miranda, Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
- Antenor Karitiana, líder do povo indígena Karitiana
- Dr. Leonardo Trevisiani, Procurador do Ministério Público Federal
