Cardeal Michael Czerny: “A Conferência Eclesial da Amazônia é um espaço de sinodalização que a América Latina oferece à Igreja universal”

Como a CEAMA pode ajudar de maneira concreta e eficaz os bispos e vigários da Amazônia? Como pode ajudar as Igrejas locais a enfrentar os principais desafios pastorais? Quais funções as conferências episcopais são chamadas a cumprir que sejam relevantes e necessárias para a CEAMA? Essas são algumas das questões que o cardeal Michael Czerny SJ levantou na sessão inaugural do Encontro dos Bispos da Amazônia, previsto para os dias 17 a 20 de agosto, em Bogotá.

O prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral lembrou que esse é precisamente o objetivo do encontro: fazer com que as vozes dos bispos da Amazônia sejam acolhidas, ouvidas e consideradas, que a CEAMA redefina sua trajetória, relançando, acompanhando e ajudando as Igrejas locais a realizar sua missão.

Para o prelado, a criação da CEAMA representa um novo âmbito de sinodalização que a Igreja Latino-Americana oferece a toda a Igreja, a Igreja universal. É por isso que, à luz do Sínodo da Sinodalidade, é necessário continuar com seu processo de aprofundamento e amadurecimento no âmbito da atual fase de recepção do Concílio Vaticano II.

Pastoral compartilhada e inculturada

Recordando o nascimento da Conferência Eclesial da Amazônia, ele se referiu ao processo como um verdadeiro milagre. O cardeal destacou sua existência como uma resposta ao apelo feito na época pelo caminho sinodal da Amazônia: “criar uma rede de comunicação eclesial amazônica, que compreenda os diversos meios utilizados pelas Igrejas particulares e outros organismos eclesiais. Uma estrutura que foi pensada como uma forma encarnada de levar adiante a organização eclesial”.

Nessa perspectiva, Czerny assegurou que sua missão estabelece uma relação direta com uma pastoral compartilhada e inculturada que deve ser promovida entre as dioceses amazônicas, como foi proposto anos atrás pelos bispos na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, em Aparecida.

Cinco anos se passaram desde os acontecimentos que marcaram o nascimento da CEAMA, e o cardeal Czerny destaca os esforços dessa “brota que cresceu, se desenvolveu e agora começa a se conhecer, reconhecendo sua vocação e missão”. Uma oportunidade que, segundo ele, convida a felicitar o organismo por esta primeira Assembleia dos Bispos da Amazônia.

Uma reunião cujo objetivo é agradecer por tudo isso e, ao mesmo tempo, “aprofundar seu chamado, redescobrir sua vocação e missão de maneira mais madura para impulsionar uma nova etapa em sua caminhada”.

Uma Igreja de ministérios e carismas

A esse respeito, o cardeal aprofundou a novidade do organismo eclesial a partir do significado da sigla que lhe dá nome: CEAMA.

Uma “Conferência” e “eclesial”, disse o bispo canadense, explicando que esta última palavra é de grande importância porque se refere ao seu caráter especial entre as instituições da Igreja.

“Significa que seus membros e participantes não são apenas bispos, mas representam as vocações dentro do povo de Deus, os ordenados, os consagrados, os leigos e os representantes dos catequistas e leitores. Uma Igreja não apenas de ministérios, mas também de carismas”, à qual se acrescenta a participação de organismos regionais como Cáritas, CLAR, REPAM, representantes dos povos originários, especialistas e o próprio Papa.

Uma dimensão eclesial e sinodal que concretiza o desejo dos bispos em Aparecida, no que diz respeito à participação dos leigos e à importância do discernimento, da tomada de decisões, do planejamento e da execução da vida e da missão de toda a Igreja.

“A CEAMA não pode ser menos episcopal do que uma conferência ordinária e típica; pelo contrário, de acordo com o concílio e o sínodo, deve manter seu caráter episcopal, deve fortalecê-lo e amadurecê-lo à luz da sinodalidade, porque, de acordo com o sínodo dos bispos, a sinodalidade é o quadro interpretativo mais adequado para compreender o ministério hierárquico”, comentou.

Um lugar teológico

Ele também assegurou que a terceira palavra da sigla CEAMA é “Amazônia”, e é ela que designa uma realidade vasta; aqui existe o risco de se tornar uma abstração.

A palavra “Igreja” também pode se tornar abstrata se seu centro de gravidade não estiver na Igreja local, adverte ele, ou seja, é uma parte do Povo de Deus que, como bem afirma Querida Amazônia, “reconfigura sua própria identidade na escuta e no diálogo com as pessoas, realidades e histórias de seu território”.

Nessa linha, o cardeal insistiu que duas palavras devem ser acrescentadas a essa análise: “pastoral e territorial”, para superar a concepção da Amazônia como um lugar geográfico e entendê-la como um lugar onde se vive a presença e a revelação de Deus.

Nós, crentes, encontramos na Amazônia um lugar teológico, ou seja, um lugar de sentido para a fé ou a experiência de Deus na história. “O território é um lugar teológico onde se vive a fé, é também uma fonte peculiar de revelação de Deus”.

Reflexões que, a partir do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, convidam a refletir sobre o ser e o fazer da CEAMA diante do que foi dito, convém analisar que uma “conferência” — seja episcopal ou eclesial — não é concebida apenas para “fazer”, mas para coordenar, articular e facilitar.

Por: Paola Calderón