Por ocasião do Encontro dos Bispos da Amazônia, que reúne em Bogotá mais de 90 pastores de 76 jurisdições eclesiásticas dos nove países amazônicos, foi realizada uma conferência de imprensa na sede do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM).
Participaram do evento o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus; Mauricio López, vice-presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA); Monsenhor Omar Mejía, bispo de Florencia (Colômbia); Monsenhor Lizardo Estrada, secretário-geral do CELAM; e Monsenhor Eugenio Coter, vigário apostólico de Pando (Bolívia).
Igreja sinodal na Amazônia
O cardeal Leonardo Steiner destacou que este encontro dá continuidade ao caminho aberto pelo Sínodo Especial para a Amazônia. “Queremos continuar o Sínodo para a Amazônia. O Sínodo convocado pelo Papa Francisco tem continuidade. A maior continuidade se deu com a criação do Conselho Eclesial da Conferência Eclesial Pan-Amazônica. A CEAMA é fruto do Sínodo. Uma Igreja sinodal, uma Igreja que se ajuda, uma Igreja que sabe ouvir, uma Igreja profundamente encarnada, uma Igreja profundamente inculturada”.
O cardeal destacou que a CEAMA “não envolve apenas os bispos, mas também a vida religiosa, os sacerdotes, os diáconos, os leigos e também os povos originários”, num espírito de autêntica sinodalidade.
Quatro prioridades e um ponto de partida
Mauricio López relembrou o caminho percorrido desde o Sínodo Amazônico até a criação da CEAMA em 2020, em plena pandemia: “Foram claramente identificadas quatro grandes prioridades: a continuidade do processo da REPAM, o organismo episcopal eclesial, a criação de um programa universitário para a Amazônia e a interculturalidade através do rito amazônico e dos ministérios. (…) Este encontro se circunscreve neste ponto, que não é um ponto de chegada, mas volta a ser um ponto de partida”.
López ressaltou que este espaço quer marcar “o plano sinodal que está construindo a Conferência Eclesial da Amazônia para que realmente recolha as inquietudes que surgem aqui”.
Colômbia como sede
Monsenhor Omar Mejía expressou a alegria da Igreja colombiana em acolher este encontro: “É uma grande oportunidade para impulsionar e revitalizar. Como Igreja colombiana, devemos realmente dar vida a esses quatro sonhos do Papa Francisco: o sonho social, o sonho eclesial, o sonho cultural e o sonho ecológico”.
Ele também destacou o compromisso das 14 províncias eclesiásticas do país em apadrinhar as jurisdições amazônicas mais necessitadas.
O papel do CELAM
Por sua vez, Monsenhor Lisardo Estrada explicou a missão do CELAM neste processo: “O CELAM é o organismo eclesial internacional que acompanha e serve todas as conferências episcopais. Nossa missão é acompanhar, fortalecer a formação, a ecologia integral, defender a casa comum, defender os pobres, ouvir o grito da terra”.
Ele lembrou que este caminho está em sintonia com a etapa de implementação do documento final do Sínodo para a Amazônia.
Metodologia e espiritualidade
Monsenhor Eugenio Coter explicou que o encontro começou com um gesto simbólico: “A entrega de uma cruz peitoral pelos leigos aos bispos participantes. Uma cruz feita por um padre indígena com árvores derrubadas pelos incêndios na Amazônia. Recordando que somos chamados como bispos a carregar o sofrimento dos povos e da natureza, mas, ao mesmo tempo, a cruz é um sinal de redenção e esperança”.
Ele detalhou que a metodologia se centrou na escuta, no discernimento e no compartilhamento de sonhos, para depois recolher os desafios e celebrar com a Igreja local em Bogotá.
Perguntas da mídia
No diálogo com os jornalistas, foram abordados os desafios do CELAM e dos cofundadores da CEAMA: Dom Estrada insistiu que “a Igreja está sempre em conversão, sempre em discernimento”, lembrando os quatro sonhos do Papa Francisco.
Em relação aos problemas da Amazônia, Dom Coter afirmou que “a Igreja está para responder aos Cristos sofredores: ‘Nossa missão é profecia, é denunciar, é acompanhar’”.
Inteligência Artificial: Os bispos concordaram que ela não pode ser ignorada. Dom Estrada destacou que “a inteligência artificial não é boa nem má, depende de como é usada”. Dom Coter acrescentou que “é um desafio evangelizar também por meio desses instrumentos”. E o cardeal Steiner advertiu que “uma máquina não é um ser humano. A questão é ética, é moral”.
Mauricio López juntou-se a este debate, lembrando que a inteligência artificial deve estar a serviço da vida e relacionou este tema com o mandato do Sínodo Amazônico de criar um programa universitário: “No número 114, solicita-se a criação de um programa universitário para a Amazônia. Ele alertou sobre os riscos: “Nas comunidades indígenas, no momento em que se habilita o acesso à internet, a mudança na identidade cultural é tão forte que está causando estragos, inclusive com níveis de suicídio infantil. Lá, a Igreja é uma das poucas presenças que conseguem trazer uma visão ética”.
COP30 no Brasil: O cardeal Steiner indicou que, embora as principais negociações já estejam em andamento, “há uma expectativa muito grande”, especialmente pela participação ativa dos povos indígenas, das ONGs e da Igreja na defesa do meio ambiente.
Igreja com esperança
A coletiva de imprensa foi encerrada com um apelo para manter viva a esperança em meio aos desafios: “Nós, como bispos, como Igreja Católica na Amazônia, temos esse cuidado, esse gesto profético. Mas a Igreja também deve ser sempre um sinal de esperança”, encorajou o cardeal Steiner.