O Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) tem o prazer de apresentar o documento intitulado “Síntese do Marco Geral do Rito Amazônico”, elaborado pelo teólogo brasileiro Agenor Brighenti, como uma valiosa contribuição ao caminho da inculturação no território amazônico. Este documento pretende oferecer uma síntese orgânica e estruturada que sirva de base teológico-pastoral e metodológica para caminhar rumo à criação de uma Rito Amazônico em comunhão com a Igreja universal.
Um mandato sinodal a caminho
O documento responde ao apelo da Documento Final do Sínodo para a Amazônia (2019), em seu número 119, onde se propõe a criação de um ritual próprio da Amazônia:
“O novo organismo eclesial da região amazônica deve estabelecer uma comissão competente de estudo e diálogo, de acordo com o direito canônico, para o desenvolvimento de um rito amazônico que expresse a herança litúrgica, teológica, disciplinar e espiritual da Amazônia.”
Este caminho faz parte do processo de escuta, discernimento e conversão pastoral que caracteriza o processo sinodal promovido pelo Papa Francisco. O rito amazônico não visa uniformizar, mas dar forma visível e comemorativa à riqueza espiritual, simbólica e cultural dos povos amazônicos, fortalecendo uma Igreja com rosto próprio.
Estrutura do documento
O documento elaborado por Brighenti está organizado em quatro grandes blocos que articulam fundamentos, critérios e propostas para a elaboração do Rito Amazônico:
1. Introdução geral
Apresenta a motivação pastoral do documento e seu contexto sinodal, enfatizando a natureza processual, participativa e sinodal do caminho rumo a um rito amazônico. Note-se que o documento não pretende definir o rito, mas sim oferecer uma estrutura geral para orientar sua construção coletiva, respeitando a pluralidade cultural, linguística e espiritual da região.
2. Fundamentação teológico-pastoral
Explore os fundamentos teológicos do projeto, desde a eclesiologia do Povo de Deus, o relação entre liturgia e cultura, o diversidade de ritos na tradição da Igreja e compreensão do A inculturação como princípio teológico e pastoral. Aqui se afirma que o rito amazônico não é uma concessão, mas um direito e uma expressão legítima do catolicismo.
3. Pistas metodológicas
Oferece propostas para o processo de elaboração do rito, destacando a necessidade de:
- Ouça as comunidades locais, especialmente povos indígenas e afrodescendentes.
- Reconhecer os conhecimentos tradicionais e as espiritualidades indígenas e afro/amazônicas.
- Articular a liturgia com a vida, a memória e a esperança dos povos.
- Trabalhar em comunhão com as Igrejas particulares, o CELAM, o Dicastério para o Culto Divino e outros organismos eclesiais.
Ressalta-se que este processo deve ser participativa, comunitária, intercultural e ecumênica, valorizando também as experiências de celebração inculturada existentes em diversas dioceses e prelazias amazônicas.
4. Diretrizes para a elaboração do rito
Esta parte propõe a princípios e critérios que poderiam orientar a construção do novo rito, incluindo:
- O centralidade da Palavra de Deus como uma fonte viva de sabedoria.
- O dimensão simbólica, narrativa e performativa da liturgia.
- O relacionalidade como uma categoria-chave da espiritualidade amazônica.
- A incorporação de línguas nativas, canções, gestos e símbolos do território.
- O lugar das mulheres, dos ministérios leigos e da comunhão com a criação.
Estas diretrizes buscam garantir que o rito amazônico seja autenticamente enraizada na cultura e na experiência de fé dos povos, promovendo uma liturgia viva, significativa e libertadora.
Uma proposta aberta ao discernimento comunitário
O documento não pretende oferecer uma receita pronta, mas convite ao caminho sinodal e criativo que as Igrejas da Amazônia são chamadas a seguir. Da CEAMA, encorajamos as comunidades eclesiais, os agentes de pastoral, as lideranças indígenas, os ministérios leigos, os teólogos e os bispos a leia, reflita e discuta este documento, como instrumento de trabalho para construir coletivamente uma liturgia com rosto amazônico.
Nas palavras do Papa Francisco, trata-se de “não domesticar a novidade que o Espírito quer suscitar na Igreja” (Evangelii Gaudium 259), e abrir-nos à possibilidade de celebrar a fé a partir da vida, terra e esperança que brota no coração do bioma amazônico.
