CEAMA visita o Dicastério para a Evangelização

Uma delegação da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) visitou o Dicastério para a Evangelização, onde foi recebida por Monsenhor Fortunatus Nwachukwu, secretário do órgão vaticano. O encontro permitiu compartilhar os avanços, desafios e esperanças do processo eclesial no território amazônico, em continuidade com o caminho aberto pelo Sínodo para a Amazônia (2019) e com a orientação do Papa Francisco para uma Igreja sinodal, missionária e inculturada.

Um caminho pastoral participativo

Durante o diálogo, Monsenhor Zenildo Lima (vice-presidente da CEAMA) destacou a importância de fortalecer a sinodalidade e a articulação pastoral entre os vicariatos amazônicos, propondo avançar em direção a uma Ratio Amazônica, que oriente a formação e a ação pastoral a partir das realidades próprias do território.

“Somos chamados a cuidar da Casa Comum e a organizar novos ministérios, de forma participativa e missionária”, afirmou, sublinhando a necessidade de um processo que conduza a uma Igreja com rosto amazônico.

Por sua vez, Dom Eugenio Coter, vigário apostólico de Pando e Reyes (Bolívia), compartilhou a experiência de uma Igreja profundamente leiga: “Em nosso vicariato, celebramos mais de 150 celebrações da Palavra todos os domingos, animadas por leigos e leigas. Essa é uma riqueza enorme, embora também mostre a fragilidade estrutural e ministerial que vivemos”. Ele também destacou os desafios econômicos das igrejas amazônicas e a urgência de fortalecer as estruturas de solidariedade e sustentabilidade eclesial.

Evangelização, inculturação e vida religiosa

O diálogo também abordou o trabalho que a CEAMA promove em torno da inculturação da liturgia, em continuidade com o mandato do Sínodo Amazônico de elaborar um rito próprio. Foi destacado que esse processo é realizado com profundo respeito pela matéria e forma dos sacramentos, incorporando elementos culturais, calendários, línguas e símbolos próprios do território.

Foi feita uma menção especial à vida religiosa feminina, cuja presença missionária sustenta comunidades em zonas de fronteira. Marcelo Lemos, secretário executivo da CEAMA, destacou que “a evangelização na Amazônia está sendo levada adiante, em grande parte, por mulheres — religiosas e leigas — que custodiam a fé, as culturas e a vida do povo”.

Escuta dos povos e protagonismo dos jovens

Em nome dos povos indígenas, Patricia Gualinga, vice-presidente da CEAMA e representante do povo Kichwa de Sarayaku (Equador), lembrou a urgência de acompanhar as comunidades afetadas por interesses extrativistas: “Muitos dizem que a Amazônia está em um ponto sem volta, mas ainda estamos a tempo de curar e defender a vida. A CEAMA é esse espaço que responde à complexidade do bioma e à voz dos povos”.

Em sua intervenção, Fernando Rueda (comunicações CEAMA) destacou a necessidade de integrar com mais força os jovens amazônicos nos processos de evangelização e tomada de decisões. “Os jovens, mesmo se sentindo às vezes marginalizados pela Igreja, continuam acreditando, continuam evangelizando à sua maneira.

São eles que sustentarão a esperança nos próximos anos”, afirmou.

Comunhão e missão compartilhada

A visita foi também uma oportunidade para agradecer a abertura e o acompanhamento do Dicastério para a Evangelização. Monsenhor Fortunatus Nwachukwu valorizou o compromisso da CEAMA na construção de uma Igreja sinodal e missionária a serviço da vida.

Da mesma forma, Cecilia Barja, do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, destacou o testemunho dos mais de noventa bispos que participaram do Encontro dos Bispos da Amazônia em agosto passado: “O que vimos é uma Igreja profundamente comprometida com a sinodalidade e com os clamores do povo e do território”.

A CEAMA reiterou o convite ao Dicastério para participar de sua próxima Assembleia Geral, prevista para março de 2026, como sinal de comunhão e corresponsabilidade eclesial.

“A CEAMA é um instrumento a serviço da evangelização, do diálogo e da defesa da vida e do território. Queremos continuar caminhando juntos, em comunhão com Roma, para que a Igreja amazônica continue sendo um sinal de esperança para o mundo.” — Cardeal Pedro Barreto, Presidente da CEAMA.

Um presente da Amazônia

Bandeja em madeira makana elaborada pela comunidade Inga (Amazônia colombiana), oferecida como sinal de gratidão e comunhão entre a Igreja amazônica e o Vaticano, símbolo da vida, da cultura e da fé que brotam da Amazônia para o mundo.