João Gutemberg, irmão marista brasileiro, há quatro anos atua como secretário executivo da Rede Eclesial Panamazônica (Repam). Quando assumiu o cargo – conta ao ADN Celam – houve também uma mudança geográfica, pois a sede foi transferida de Quito (Equador) para Manaus (Brasil).

Por Ángel Morillo / ADN Celam

O religioso acompanha a entidade desde a sua fundação e, ao longo desses 10 anos de caminhada, destacou a continuidade do trabalho, que se estabeleceu em núcleos temáticos.

A Repam tem se destacado em processos importantes, como a defesa dos direitos humanos, a justiça socioambiental e o bem viver, além de temas de fronteiras, jovens e mulheres. Não é à toa que, em várias ocasiões, sua voz ressoou em espaços como a Organização das Nações Unidas (ONU).

Consciência pan-amazônica

Pergunta: Quais são os frutos mais importantes da Repam nesses 10 anos de caminhada?

Resposta: A visão pan-amazônica. Sem dúvida, é um tema fundamental, porque antes cada país pensava a Amazônia a partir de sua perspectiva, sem essa consciência. Acredito que a Repam estava de forma mais prática na visão dos bispos.

Por exemplo, em Aparecida (2007) foi criada nas Américas a consciência da importância da Amazônia para toda a humanidade.

Então, é necessário entender que esse tema não é autorreferencial, mas também uma conscientização de todos para a conservação da biodiversidade e da importância no equilíbrio sistêmico do planeta.

Outro tema importante foi a dimensão eclesial que originou outros processos que abrangem as conferências, seja episcopais, de vida consagrada ou de leigos. Claro, elas existiam, mas não havia algo que unisse tudo isso. Então, a Repam traz essa novidade de eclesialidade.

E, não menos importante, os temas de direitos humanos que foram amplamente discutidos, com acordos internacionais, formação e denúncias sobre o território em âmbito local e pan-amazônico, com uma incidência internacional.

Acredito que esse movimento gerou uma boa imagem da Igreja em sua contribuição para a Amazônia, quase em contraposição a uma visão negativa da Amazônia.

P.: Dentro desta II Assembleia da Ceama, qual foi o papel desempenhado pela Repam?

R.: As duas organizações não se sustentam uma sem a outra, especialmente a Ceama, que é mais nova, porque ela é fruto de um caminho que a Repam trilhou. A Ceama aprofunda uma estrutura canônica-jurídica, enquanto a Repam é uma rede.

Portanto, a participação da Repam nesta assembleia é importante para essa conexão, para ajudar a esclarecer os processos; mas a Ceama também tem sua própria identidade, e o que precisamos é muito diálogo, porque uma representa a outra e estreitar esses espaços é fundamental.

Processo de discernimento

P.: Como a Ceama (Conferência Eclesial da Amazônia) e a Repam se complementaram sem que uma competisse com a outra?

R.: “Isso foi um discernimento feito durante o Sínodo da Amazônia. Até o Sínodo, a Repam havia tido uma preparação muito grande em relação a este evento, mas, quando terminou, muito mais pessoas estavam conscientes e envolvidas nos processos da Amazônia e da ecologia integral.

Todos os bispos da Amazônia participaram, leigos, muitas pessoas participaram do Sínodo antes de sua fase de assembleia. Então, foram gerados outros processos e um deles foi a Ceama, porque o Papa Francisco reconheceu a importância da Repam por ser algo simples, ágil e de conexão.

A rede não tem uma estrutura jurídica canônica. Ela está organizada dentro de sua vitalidade, mas não tem uma base institucional.

Então, o Papa parecia interessado em que esse movimento pan-amazônico tivesse uma contribuição mais canônica, mais institucional, sem mudar a identidade da Repam como rede.

Daí surgem as sugestões de uma conferência eclesial, e, posteriormente, decidiu-se que teria a mesma característica da Repam, que é uma rede eclesial, configurando-se também como uma conferência eclesial, pois envolve o episcopado, a vida consagrada e os leigos.

Duas instâncias complementares

P.: Quais foram os desafios nesse sentido para diferenciar uma instituição da outra?

R.: A Ceama e a Repam são diferentes, mas se complementam. Elas têm em comum o tema da Igreja em nível pan-amazônico para questões emergentes.

Precisamos sempre de muito diálogo. Todo esse caminho está em construção e ainda não está completamente definido, pois as identidades são evolutivas e se concretizam a partir das experiências.

O desafio tem sido definir muito bem os temas, porque a Repam tem uma incidência da Igreja para fora, conectando com as organizações não eclesiais, mas mantendo sua identidade eclesial.

A Ceama tem temas que são mais estruturais da Igreja, como o Rito Amazônico, ministerialidade, educação e pastoral de conjunto, mas tudo isso se reflete nos temas da Amazônia.

Então, a dificuldade tem sido esclarecer bem os limites para não perdermos tempo com muitos liderazgos ou questões financeiras, garantindo assim a dinamicidade.

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