Encontro da CEAMA com o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida

No âmbito da visita da Presidência da Conferência Eclesiástica da Amazônia (CEAMA) aos diversos dicastérios da Santa Sé, nesta sexta-feira, 24 de outubro, ocorreu um encontro fraterno com o Dicasterio para os Leigos, a Família e a Vida, presidido pelo Cardeal Kevin Farrell.

O cardeal Pedro Barreto, presidente da CEAMA, apresentou a equipe da presidência, destacando a presença de dois leigos — ambos casados — como sinal concreto da eclesialidade amazônica e da sinodalidade que anima este processo eclesial.

O cardeal Farrell expressou seu interesse em conhecer de perto a realidade das famílias, dos jovens e da cultura na região amazônica, sublinhando a importância da inculturação da fé e de uma catequese que não se limite ao ensino teológico, mas que integre também as dimensões sociais e comunitárias da vida cristã.

Durante o diálogo, Patricia, representante leiga, compartilhou a riqueza e os desafios da família indígena amazônica, caracterizada por sua amplitude, solidariedade e profundo senso comunitário:

“A família indígena tem uma forte tradição de comunidade. O casamento é celebrado publicamente diante do povo, e o batismo reforça os laços de compadrio que ampliam a família espiritual”.

No entanto, ela apontou como os processos de migração urbana estão gerando dispersão familiar e perda de tradições, enquanto a presença de novas denominações religiosas afetou as relações com o território e o sentido de pertencimento ancestral.

Por sua vez, a Irmã Laura destacou que a defesa da vida na Amazônia está intimamente ligada à defesa do território:

“A vida também se defende protegendo a terra. A Igreja amazônica está comprometida em acompanhar as comunidades em sua luta pela dignidade e pela justiça”.

Da mesma forma, foi abordado o desafio da pastoral juvenil em contextos urbanos, onde os jovens experimentam uma perda de identidade cultural, e a necessidade de formar leigos e religiosos que acompanhem processos catequéticos e matrimoniais adaptados aos tempos e sensibilidades locais.

Monsenhor Zenildo Lima refletiu sobre o cuidado da Casa Comum a partir da família, apontando que os povos indígenas conservam com maior clareza a relação harmoniosa entre a vida familiar e a natureza, enquanto nos ambientes urbanos se percebe uma crescente fragmentação de laços e valores.

“Precisamos pensar modelos inculturados de pastoral familiar e superar o clericalismo nos movimentos leigos.

Nossas famílias precisam de uma Igreja misericordiosa, não autoritária”, afirmou.

O cardeal Farrell agradeceu a troca, reconhecendo a profundidade do testemunho amazônico:

“A fé chegou a muitos territórios por meio de famílias e leigos, não apenas de Pedro e Paulo. Vocês continuam essa missão no coração da Amazônia”.

Este encontro reafirma o compromisso comum por uma Igreja que escuta, valoriza e acompanha as famílias amazônicas, reconhecendo nelas o primeiro espaço onde a fé se encarna e floresce.

Um gesto simbólico: os bonecos da Pelazón

Ao final do encontro, a delegação da CEAMA ofereceu como presente ao Dicastério um conjunto de bonecos da Pelazón, confeccionados em fibra de yanchama por artesãos Tikuna de Leticia, Colômbia.

Essas figuras representam o rito de iniciação feminina Tikuna, um momento de passagem para a maturidade que celebra a vida, a comunidade e o vínculo com a natureza. Feitos com fibras da floresta amazônica, os bonecos evocam a força das mulheres e famílias indígenas que transmitem a fé e a cultura de geração em geração.