Mais de 180 sacerdotes provenientes da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela participaram na última quarta-feira, 5 de novembro, de forma virtual, do Encontro de Sacerdotes da Amazônia, convocado pela Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) como parte do processo de escuta para a definição das Prioridades Apostólicas Sinodais.
A reunião, realizada em modo multilíngue — com interpretação simultânea em espanhol, português e inglês —, permitiu compartilhar experiências, desafios e esperanças do ministério sacerdotal no vasto território amazônico. A coordenação técnica e logística ficou a cargo de Alicia Covaleda (consultora) e Marcelo Lemos (secretário executivo), que facilitaram o trabalho em grupos, moderadores e relatores para garantir a participação ativa dos presbíteros de diferentes jurisdições.
O cardeal Pedro Barreto, presidente da CEAMA, abriu o encontro com uma mensagem de esperança, lembrando que a conferência é fruto do Sínodo para a Amazônia (2019) e um sinal concreto de comunhão eclesial. Por sua vez, destacou o papel fundamental dos sacerdotes como servidores do Povo de Deus em contextos de fronteira e os convidou a “manter viva a alegria do Evangelho em meio às dificuldades e ao isolamento geográfico”.
Durante o encontro, foram abordados temas-chave como a formação inculturada do clero, a promoção do ministério leigo, o acompanhamento espiritual e humano dos presbíteros e a defesa dos povos originários. Os sacerdotes concordaram com a necessidade de fortalecer a fraternidade sacerdotal e a colaboração com os leigos, promovendo uma Igreja com rosto amazônico e sinodal.
Esperanças
Entre os sinais de esperança compartilhados, os participantes destacaram o crescente protagonismo dos leigos e das comunidades indígenas, o surgimento de vocações nativas, a consciência ecológica e missionária que cresce nas bases e a sinodalidade vivida em comunhão entre sacerdotes, religiosos e povos amazônicos. Destacou-se, além disso, o valor de experiências formativas como os seminários amazônicos do Equador e do Peru, que buscam uma formação teológica e pastoral enraizada na realidade local.
Vozes do território: realidades e desafios
Os sacerdotes identificaram dificuldades estruturais como a escassez de recursos econômicos, as grandes distâncias geográficas, a conectividade limitada e a falta de acompanhamento sistemático. Também apontaram a necessidade urgente de uma formação inculturada que responda aos desafios contemporâneos, o déficit de padres diocesanos amazônicos, a perda progressiva das línguas e culturas indígenas e o esgotamento físico e espiritual do clero devido ao isolamento e à sobrecarga pastoral.
Um dos desafios mais repetidos foi a falta de conhecimento sobre a missão e o sentido da CEAMA em muitos territórios. Os participantes propuseram fortalecer os processos de comunicação e acompanhamento às dioceses e vicariatos para “fazer sentir a CEAMA desde as bases”, superando medos e promovendo uma compreensão viva de sua identidade missionária.
Prioridades para o caminho comum
Entre as prioridades pastorais apontadas, destacam-se:
- A formação de um clero com identidade amazônica, sensível às culturas e línguas dos povos.
- A promoção de ministérios leigos e comunitários que respondam à escassez de sacerdotes.
- O acompanhamento espiritual, humano e econômico dos presbíteros, especialmente os idosos e aqueles que vivem em zonas isoladas.
- A defesa da vida e dos territórios amazônicos diante dos interesses extrativistas.
- O fomento da sinodalidade e do trabalho em rede entre jurisdições, congregações e comunidades locais.
A CEAMA comprometeu-se a compilar e sistematizar as contribuições surgidas do encontro como insumo para a próxima Assembleia de março de 2026, na qual serão definidos os Horizontes Apostólicos Sinodais.
Este espaço de diálogo e comunhão reafirmou a convicção compartilhada de que a missão na Amazônia exige uma Igreja encarnada, fraterna e profética, capaz de ouvir o clamor dos povos e do território, caminhando juntos sob a orientação do Espírito.




